sábado, 13 de outubro de 2012

Pablo Neruda

Talvez um dos mais recorrentes sentimentos que assolam o ser humano e só o deixa de o atormentar quando pela análise de tudo que viveu, , observou; compreender que no fim da jornada terá a certeza que aqui nessa vida o aprendizado é constante e interminável, que a mudança total não se dá ou dará aqui.
eufariassim






NÃO ME SINTO MUDAR

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.


Fonte : Cadernos de Tenuco - Pablo Neruda
            Tradução de Albano Martins

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