Imagem diurna mostra níveis de ruído do Terminal Rodoviário de Messejana, em Fortaleza
Apresentada em setembro de 2012, a Carta Acústica tem como objetivo combater a poluição sonora, além de ser uma ferramenta de desenvolvimento sustentável, com vistas a fornecer à população e aos gestores informações para identificar e quantificar o problema
Primeira cidade brasileira a ter sua Carta Acústica, Fortaleza (CE) e seus cidadãos já podem conhecer quais as áreas mais ou menos afetadas por ruídos e tomar medidas perante o poder público para reduzir a poluição sonora na região metropolitana. A cidade já foi totalmente mapeada e a população poderá em breve ter acesso aos dados por meio do site especialmente criado para isso (http://cartaacusticadefortaleza.com) que se encontra em preparação. Lá poderão ser encontrados os mapas de ruído, curvas de intensidade e registros sobre áreas consideradas críticas, como as próximas ao Aeroporto Internacional Pinto Martins, de indústrias e áreas de entretenimento. O bairro de Messejana, o Centro Dragão do Mar e a Av. Godofredo Maciel, na Maraponga, também apresentam altos índices de ruídos.
Francisco Aurélio Chaves Brito, gestor ambiental e especialista em acústica, coordenou e executou, até 2010, a implantação do projeto através da Secretaria do Meio Ambiente de Fortaleza, ao lado do professor José Luis Bento Coelho, especialista em Acústica do Instituto Superior Técnico de Lisboa. A Carta Acústica é um instrumento para combater e prevenir a poluição sonora. Apresentada em setembro de 2012, durante o I Congresso Nacional Multidisciplinar de Ruído Ambiental Urbano e Ruído Aéreo, que aconteceu na Universidade de Fortaleza (Unifor), os dados originados a partir de ruídos de trânsito, indústrias, setor aeronáutico e recreativo, estão sendo consolidados para serem postados no site. A cada mês, curvas de intensidade de ruídos e mapas serão devidamente atualizados.
Francisco Aurélio Chaves Brito, especialista em acústica, que coordenou a implantação da Carta Acústica de Fortaleza
Brito lembra que a Carta Acústica de Fortaleza tem como objetivo combater a poluição sonora e a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, além de ser uma ferramenta de desenvolvimento sustentável. Visa ainda fornecer à população e aos gestores informações sobre o ruído na cidade, identificar e quantificar a escala do problema em áreas sensíveis, além de fornecer uma base objetiva para o planejamento urbano e de tráfego, estudar e monitorar tendências do ruído no ambiente urbano e estabelecer objetivos para seu controle.
Segundo Brito, que também é autor do livro recém-lançado, “Tolerância Zero em Fortaleza”, sobre o combate ao ruído na cidade, o projeto vem sendo estruturado desde 2006 e, em fevereiro de 2012, conseguiu consolidar todos os dados sobre a situação sonora da cidade. "Agora, estamos processando essas informações. Toda semana, teremos dados novos postados no site. Alguns estudos pontuais que constam da Carta são o do Aeroporto Pinto Martins e o da área da Praia de Iracema, que chegou à tolerância zero contra o ruído", diz Brito.
O responsável pela Carta Acústica afirma que um dos objetivos do projeto é promover a interatividade. “A população precisa interagir, denunciando as situações de poluição sonora. Com isso, o cidadão exige seus direitos e contribui para impedir um mal que pode causar sérios problemas de saúde". Leia a seguir a entrevista com Francisco Aurélio Chaves Brito e os problemas que a cidade enfrenta em relação à poluição sonora.
Como e quando surgiu a ideia de mapear Fortaleza? A cidade tinha muitos problemas relacionados à poluição sonora?
No ano de 2000, as reclamações da população em relação à poluição sonora chegaram a uma situação insustentável, forçando os órgãos públicos responsáveis a se unir para iniciar um combate mais efetivo. Neste período, começou a funcionar na Secretaria do Meio Ambiente a ECPS (Equipe de Controle da Poluição Sonora) e verificamos que os problemas relativos à poluição sonora eram extremamente amplos e complexos, ultrapassando os relativos a clubes e igrejas, que eram os campeões de denúncias. Passamos a verificar que o trânsito, o aeroporto na região central da cidade, indústrias e outros fatores, também contribuíam para o problema e que seria necessário um estudo mais profundo. Então, em 2004, após pesquisa na internet, descobrimos estudos sobre mapeamento acústico feitos em Lisboa, que resultaram em um mapa de ruído, cujo responsável era o professor Bento Coelho. Entrei em contato com ele e assim concretizamos a ideia de preparar a Carta Acústica de Fortaleza.
Mapa acústico do aeroporto de Fortaleza: imagens do período diurno e noturno
Quais os locais da cidade que foram mapeados e por que?
Toda a cidade de Fortaleza foi mapeada, devido à diversidade de situações que se distribuem em toda sua área. Desde vias extremamente movimentadas, atividades recreativas e industriais, mescladas com áreas residenciais. Estes fatores fomentam as inúmeras denúncias que ocorrem diariamente em nossa cidade.
Como foram feitas as medições? Quais os critérios de medição foram adotados para esses locais em Fortaleza?
A metodologia empregada para execução da Carta Acústica de Fortaleza é do tipo híbrido, essencialmente previsional, através da utilização do software CadnaA, complementada com medições experimentais para validação e aferição. Todas as fontes de ruído são inseridas na estrutura volumétrica montada, e todos os fatores específicos necessários são configurados. As medições efetuadas foram realizadas em locais escolhidos criteriosamente, buscando vias de maior impacto, locais com atividades ruidosas, áreas residenciais, etc.
Quando foram publicadas as cartas acústicas e como isso beneficiou esses bairros e a população?
Os mapas serão publicados por setores, de forma a propiciar uma melhor avaliação diante das variações nos períodos diurnos e noturnos. Além de variações de atividades ruidosas e não ruidosas, a fim de propiciar um perfeito entendimento da topografia sonora de cada área, por parte da população e autoridades interessadas, facilitando e orientando ações corretivas.
Foram realizadas mudanças diante dos resultados do mapeamento acústico? Quais foram?
Em algumas situações, como o problema do Aeroporto localizado na região central da cidade, o trecho do metrô na superfície e algumas atividades recreativas, como o Ceará Music e o Fortal, os estudos resultantes do mapa de ruído serviram de parâmetro avaliativo. No caso do Aeroporto, o Ministério Público Federal utilizou os estudos para procedimento judicial contra o funcionamento noturno do aeroporto. Nas duas atividades recreativas, o Ministério Público Estadual utilizou os mapas para coibir os excessos destes eventos. Mas, infelizmente, o poder público municipal ainda não utiliza efetivamente a ferramenta para um estudo mais aprofundado dos problemas.
Como está a situação agora? As medições continuam? Em que locais?
O mapa está totalmente processado e, no momento, estamos setorizando a cidade para divulgação no site, de forma a propiciarmos um amplo conhecimento do problema à população, além de anexarmos estudos em relação aos problemas mais graves encontrados, para avaliações comparativas.
Quais as melhorias alcançadas depois do mapeamento? Houve redução da poluição sonora? Como isso foi alcançado?
Não, ainda não tivemos melhorias efetivas e amplas. Estamos em fase de implantação e divulgação do mapa, disseminando sua importância para o poder público e para a população. Como fatores positivos, podemos citar o interesse de muitos gestores pelos resultados, o uso judicial do estudo pelos Ministérios Público Estadual e Federal, que resultou em reduções dos níveis de ruído nos locais citados. Foram feitos ainda estudos das obras de mobilidade da Copa 2014, com avaliações que mostram como era, como ficou e como se montará o mapa de ruído após a conclusão das obras. A implantação da Carta Acústica aumentou a satisfação e o empenho do grupo que trabalha no combate à poluição sonora em Fortaleza, tornando-se uma bandeira de orgulho.