A implantação do sistema Veículo Leve sobre Trilho (VLT) em Cuiabá como principal projeto de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá corre o risco de não acontecer apenas por “ranço, picuinhas, ressentimentos contidos, politicagem barata e medos irracionais”. O alerta foi feito pelo estudioso de transporte urbano sobre trilhos, Luis Cezar Santos, especialista em Análise Organizacional pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele considera as explicações para tais riscos como “uma patologia que assola” a capital federal, Brasília, onde o tema começa a ser discutido esta semana.
“Precisamos nos libertar do “Complexo de Vira latas” – isto é, ficar de cócoras, submissos, cabisbaixos, achando que coisa boa é para os outros” - diz. Para ele, trocar um sistema durável, ecologicamente correto, movido por tração elétrica, por ônibus sanfonados, movidos pelo pior diesel do planeta significa uma atitude de desrespeito ao cidadão.
Luis Cezar observa que o lobby do Bus Rapid Transport, o BRT, modelo inicialmente projetado como meio de transporte de massa para a cidade, é grande e vem motivado pelo estilo latino de tocar as coisas. Na defesa do VLT, ele explica que a idéia não é acabar com os ônibus, mas, em verdade, remanejá-los para onde há carência, falta de linhas, retirando-os de corredores já saturados.
“Enquanto o resto do mundo tenta retirar carros e ônibus de circulação, incentivando o transporte não poluente, alguns áulicos insistem andar na contramão. Mudar o conceito de transporte implica despir-se de conceitos arraigados e preconceitos históricos” – ele frisou. Atualmente, segundo o estudioso, pelo menos 90 cidades pelo mundo optaram pelo VLT.
Luis Cezar cita o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, no artigo “Bonde, Metrô e Ordem Social”, trata das diferenças entre aqueles que utilizam o automóvel e os que andam espremidos, humilhados e pisoteados nos ônibus urbanos. O articulista é incisivo: “Se os ricos tivessem que fazer uso do transporte público, o padrão de qualidade exigido sobre ele seria outro. Que appartheid é esse, indaga o jornalista?”.
Segundo o especialista, o VLT é uma versão moderna dos antigos bondes e trafega em mais de 90 cidades pelo mundo. Frisa que é um transporte politicamente correto, limpo, silencioso, não provoca acidentes, não joga toneladas fumaça e fuligem na atmosfera. “Os ônibus agravam a situação. Há muito os EUA, com a maior frota de carros do planeta, reconheceram que é preciso mudar” - destacou. Segundo ele, são 14 cidades com VLT, incluindo Boston, Minneápolis, Baltimore, Cleveland, Filadélfia, Pittsburg, Seattle, Cleveland, Dallas, Saint Luis, Sacramento, Houston e San Diego. As mais novas são Phoenix e Charlotte.
Em seu estudo, Luis Cezar observa que em Jerusalém, Israel, o VLT está em fase de testes. Na cidade de Dubai está na fila. Bergen, na Noruega, acaba de inaugurar o seu VLT. Em Firenze, na Itália, foi inaugurado no Dia dos Namorados. O de Palermo está na fila. “A Europa sempre foi um tradicional reduto de VLT. Também na Inglaterra, Suiça, Portugal, Áustria, Holanda, Bélgica, Espanha, Irlanda, Finlândia, Suécia, Austrália, Canadá, e pó aí vai. O VLT é comum nos países do leste europeu. O Japão, Tunísia, também tem” - observa.
Na Grécia, o VLT foi inaugurado para os Jogos Olímpicos. Portugal tem o seu, na cidade do Porto, que ganhou prêmio pelo design do veículo. França é o país que mais investe em VLT na Europa, seguida da Alemanha, Itália. Os sistemas de Lyon, Paris, Le Mans, Grenoble, Bordeaux, Mulhouse e Montpellier são exemplos da convivência com o meio ambiente.
O VLT de Grenoble, segundo ele, virou referência pela plataforma baixa, que facilita o acesso da cadeira de rodas e do carrinho do nenê. “As mamães de Cuiabá, os idosos vão adorar. A cena de um deficiente físico, cadeirante, embarcando num ônibus é repugnante para a consciência. O VLT promove a inclusão dos excluídos, deixa o tráfego mais civilizado, a cidade mais calma, humana, civilizada, segura. As largas avenidas de Cuiabá, um subsolo livre de obstáculos facilitaria o assentamento dos trilhos, tornando a obra mais rápida e barata” – comparou.
O comércio e o turismo de Cuiabá , por sua vez, também iriam sentir, de pronto, os efeitos da vinda do VLT. Na cidade de Phoenix, no Arizona, o VLT alavancou o comércio, trazendo novos negócios, restaurantes, bares, cafés, boutiques, pequenos shoppings. O VLT é vida. As pessoas saem de casa só para andar nele. As crianças o adoram. O VLT atrai visitantes, turistas, empreendimentos. “Enfim, o VLT gira a economia local. O sistema se paga ao longo do tempo” – comentou, a par dos investimentos.
Para completar, Luis Cezar observa que “o VLT é verde, não gasta pneus, não polui, é 40% mais silencioso que o ônibus, não provoca acidentes, não queima o pior óleo diesel do planeta, não destrói a pavimentação pública”. Uma única unidade retira mais de 380 carros de circulação.
Fonte : Edilson Almeida
Redação 24 Horas News
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